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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

FATO TROPICAL De: Chico Buarque e Ruy Guerra. Oh, musa do meu fado, Oh, minha mãe gentil, Te deixo consternado No primeiro abril, Mas não sê tão ingrata! Não esquece quem te amou E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou. Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal: Ainda vai tornar-se um imenso Portugal! "Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..." Com avencas na caatinga, Alecrins no canavial, Licores na moringa: Um vinho tropical. E a linda mulata Com rendas do alentejo De quem numa bravata Arrebata um beijo... Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal: Ainda vai tornar-se um imenso Portugal! "Meu coração tem um sereno jeito E as minhas mãos o golpe duro e presto, De tal maneira que, depois de feito, Desencontrado, eu mesmo me contesto. Se trago as mãos distantes do meu peito É que há distância entre intenção e gesto E se o meu coração nas mãos estreito, Me assombra a súbita impressão de incesto. Quando me encontro no calor da luta Ostento a aguda empunhadora à proa, Mas meu peito se desabotoa. E se a sentença se anuncia bruta Mais que depressa a mão cega executa, Pois que senão o coração perdoa". Guitarras e sanfonas, Jasmins, coqueiros, fontes, Sardinhas, mandioca Num suave azulejo E o rio Amazonas Que corre trás-os-montes E numa pororoca Deságua no Tejo... Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal: Ainda vai tornar-se um império colonial! Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal: Ainda vai tornar-se um império colonial!

Para ouvir:

https://www.youtube.com/watch?v=NfjaFMah7sE

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Trabalho dos alunos da ETEC sobre a agua



Na semana da informática da ETECUirapuru, vamos descobrir como a informática pode ajudar na economia, no uso correto, na reciclagem da água.

E os alunos do primeiro ano do ETIM produziram esse filme como contribuição. ETEC e a Agua

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Coração

Hoje eu sinto como se eu fosse apenas coração.
Um coração que parece que vai explodir....de tanto amor.
Olho para minhas mãos e não as vejo...vejo, tão somente, coração.
Os meus dedos, pobres coitados....estão dormentes pelo desejo ardente
De derramar, por entre seus vãos, esse amor, essa paixão...
Sinto apenas o refluxo do sangue num sobe e desce frenético...
Um pulsar desesperadamente...patético,
Desse enorme coração.

Olho para o meu rosto quente e fumegante,
Respiro ofegante, flagrante torpor...
delírio de amor....e de dor.
Mistério da metamorfose da paixão, do amor...
Do desejo
Ardente, potente....doente....
É amor sem dono, realeza sem trono,
Coração desfeito, sem peito,
Porque o corpo que acolhe o peito já é somente coração.

E é assim, nesse devaneio louco e sem hora,
Onde o desejo aflora....e explora.....e implora,
Que eu deixo a magia me levar...me elevar....me enlevar
Para o aconchego do teu peito
Onde eu deixo, docemente, totalmente, apaixonadamente,
Essa massa pulsante, vibrante, delirante...,
Esse coração que sou eu....se acomodar.

Author: Dirce - 19.01.2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Lábios

Lábios, moldura da boca
Que se movem rápidos, lentos
Serpenteando o que a boca diz
Hora trêmulos, ora sedentos.

Lábios que dizem tudo, calados
Lábios que dizem tudo sorrindo
Lábios que dizem tudo fechados
Lábios que apaixonam, se abrindo.

Para se expressar basta um quase nada
Um beicinho, um muxoxo, um sorriso
Um entre-abrir mostra a ponta dos dentes
Um entre-abrir mostra a alma!

Carnudos, finos, sensuais
Que importa a forma?
Importa o jesto, importa o beijo,
Beijo que um nao basta, sempre quero mais!

fabio claret

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Olhos Negros

Olhos negros insondáveis
Olhos negros insolúveis
Olhos negros incansáveis
Olhos que fascinam!

Olhos que vem e vão
Olhos que vêem em vão
Olhos que olham o chão
Olhos que ME fascinam!


Olhos negros que vêem com clareza
Olhos negros que vêem na incerteza
Olhos negros cheios de beleza
Olhos que ME FASCINAM!

E que dizer desse Olhar?
E que dizer desses Olhos?
Nada... a não ser que foram feitos
Para amar.

Olhos que enxergam a alma
Olhos que enxergam o amor
Olhos que me acalmam
E me trazem calor.

By Fabio Claret

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Escutatória

O silêncio é tolo quando somos sábios,mas é sábio quando somos tolos.
(Charles Caleb Colton)





Escutatória


Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso
de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer
aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas
acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante
não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não
ter filosofia nenhuma".

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as
coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o
Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito;
é preciso também que haja silêncio dentro da alma". Daí a
dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo
dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a
gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de
descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo
que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil
de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos
estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os
índios.
Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo
silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do
piano, ficam assentados em silêncio, [...]. Abrindo vazios de
silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.). Todos em silêncio,
à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.
Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro
falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos.
É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não
ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas
que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se
você não tivesse falado". Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso
que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa
velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que
uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo
aquilo que você falou". E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de
pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a
ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se
ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No
fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos
todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos
saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão
linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a
importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam
num contraponto.

(Rubem Alves)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Poesia Matematica

Pequenas coisas as vezes trazem grandes recordações.

As vezes um cheiro me recorda anos e anos.

Uma cor, uma imagem...

E foi assim, que uma voz me lembrou uma professora de escola, e com ela veio a lembrança desse belo poema do Millor, que espero que todos gostem.

Foi uma viagem ao passado, distante e tão próximo, que quero co-dividir com voces.



Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo otogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?"indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que o Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
sociedade.