Última carta de Olga Benário, escrita às vesperas de sua execução na câmara de gás, na Alemanha de Hitler, para Anita e Carlos Prestes.
“Queridos: Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte. Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha? Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos pela última vez. Olga”
Em um momento único, Olga Benário dá o seu adeus aos amores de sua vida antes da execução. Parabéns Fá pela escolha dessa carta de despedida, uma das mais belas que já li. Isso mostra que a sua sensibilidade e inteligência ultrapassam limites de tempo e espaço
ResponderExcluirAin, que triste...me fez chorar!!!
ResponderExcluiressa história ñ tem que te fazer chorar, nem sentir pena.
Excluiressa história tem que te dar força e coragem para lutar por uma sociedades socialista!!!!!!!
Algumas vezes a vida nos prega peças inesperadas... Coloca-nos diante de situações inusitadas, e, de certa forma, contraditórias... Dá-nos um grande amor, nos oferece a oportunidade de viver a magia desse amor e, de repente, por um imprevisto ou então pelo que já era previsto, nos faz compreender que embora os sonhos nunca deixem de existir, a realidade é que conta...
ResponderExcluirA paciência e a coragem de Olga são um legado para cada um de nós. Paciência que não é resignação, mas, como ela mesma diz: "Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver.” Poucos de nós é ou será colocado, pela Vida, diante de um dilema tão grande, tomando-se em consideração a situação político-ideológica, vivida pelo casal... Contudo, muitos de nós, talvez a maioria, seja em um dia, seja a cada dia, de acordo com as circunstancias de nossas vidas, somos ou fomos colocados diante de dilemas semelhantes e que exigem de nós o mesmo heroismo - guardadas as devidas proporções, obviamente....
E então, vivemos o medo da perda, o desespero da separação, a dor da saudade, a angustia da incerteza, a coragem da renúncia... E, Olgas, Marias, Reginas, Edites e Severinas...talvez depois de algumas lágrimas debaixo das mantas para que ninguém nos ouça, também repetimos, como Olga: "Agora vou dormir para ser mais forte amanha. Beijos pela última vez!"
Parabens pela escolha do texto.
A leitura desta carta derradeira de Olga Benário me faz refletir sobre a sabedoria contida na idéia de que preparar-se para a morte não significa rendição, mas sim "saber fazer-lhe frente" quando ela chegar. Quantas mortes "vivemos" no nosso dia-a-dia e quão despreparados para elas continuamos... Não me refiro somente à morte física, mas principalmente à morte espiritual, à morte moral, à morte emocional... Preparar-se para a morte, como Olga Benário, sem perder a esperança. Esperança não num mundo posterior,idealizado, mas neste mundo imediato, real, palpável..."Preparar-me para a morte não significa que me renda,mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas..." Esperança num mundo (ou numa vida!) em que apesar de todas as dores, todas as mutilações, todas as perdas, há sempre algo bom, que acrescenta, que nos faz compreender que a vida vale a pena, e assim, desejar continuar vivendo. Sábio aquele que consegue compreender e aprender a difícil tarefa de "preparar-se para morte" para poder enfrentá-la com coragem, dignidade e esperança, todas as vezes em que ela se impuser.
ResponderExcluirAbraços... e parabens mais uma vez pela escolha do texto.